28 Fevereiro 2023

Check Up #12 - Estadiamento do cancro

O que é e como funciona?

Check Up #12 - Estadiamento do cancro: O que é e como funciona?

Quando ouvimos dizer que alguém foi diagnosticado com um cancro em estádio IV, sabemos que isso são muito más notícias. É o mais avançado estádio global do cancro.

Classificar – ou estadiar – um cancro é essencial para determinar o prognóstico desse cancro (a sua provável evolução) e para escolher o tratamento mais adequado. Um erro de estadiamento pode conduzir a opções terapêuticas erradas, incluindo tratamentos excessivos ou insuficientes.

Para determinar em que estádio global se encontra o cancro de um doente – estádio I, II, III ou IV –, é necessário começar por considerar separadamente o estado do tumor primário (inicial), o número de gânglios linfáticos próximos afectados pelo cancro e se a doença é ou não metastática, ou seja se o cancro alastrou ou não para locais distantes do corpo.

Nesse sentido, a classificação mais habitualmente utilizada é o sistema internacional TNM. A letra T diz respeito ao tumor primário; N faz referência aos gânglios linfáticos (ou linfonodos); e M à presença ou não de metástases.

Para classificar o tumor primário, a letra T é seguida de uma letra ou um dígito: TX significa que não existe informação sobre o tumor primário, por exemplo porque não é possível medi-lo; T0 que não há sinal de um tumor primário; Tis significa cancro in situ (cujo crescimento é muito limitado). T1, T2, T3 e T4 são descrições condensadas do tamanho e do nível de disseminação do tumor. Quanto mais elevado o número a seguir à letra, maior o tumor ou mais profunda a sua disseminação nos tecidos próximos – ou ambos. Por vezes, estas classes são elas próprias subdivididas.

Da mesma forma, em termos do envolvimento dos gânglios linfáticos, NX significa que não há informação sobre os gânglios linfáticos próximos, ou que não é possível avaliá-los; N0 que os gânglios linfáticos próximos não foram atingidos pelo cancro; e N1, N2, N3, N4 descrevem o tamanho, a localização e o número de gânglios linfáticos próximos afectados pelo cancro. Quanto maior o número da classe, maior a disseminação do cancro para os gânglios linfáticos próximos. 

Por último, a letra M pode ser seguida de X, 0 ou 1: MX significa que a presença de metástases não pode ser avaliada; M0 que o cancro não criou metástases; M1 que criou. Uma vez concluída esta classificação, um código tal como T2N1M0, T4N3M1, etc., será atribuído a cada cancro. 

O sistema TNM é utilizado para classificar a maioria dos tumores sólidos. Mas os cancros do cérebro e do sangue, por exemplo, são classificados recorrendo a outros sistemas. Além disso, outros factores – tais como a idade, o tipo de célula cancerosa, marcadores tumorais no caso do cancro da próstata ou receptores hormonais no caso de cancro da mama podem também ser considerados para fazer o estadiamento.

Uma vez determinados os valores de T, N e M (e outros factores), esses são combinados para obter o estádio global do cancro. A maioria dos cancros são codificados como sendo em estádio I a IV (numeração romana) – havendo ainda o estádio 0 dos cancros in situ. Os cancros em estádio 0 podem em geral ser totalmente removidos cirurgicamente. Os cancros em estádio I ainda não penetraram profundamente nos tecidos próximos e não se disseminaram para os gânglios linfáticos nem para outros locais de corpo. Também ditos em estádio precoce ou inicial, têm normalmente um melhor prognóstico que os estádios de nível superior. Os cancros em estádio II e estádio III já cresceram mais profundamente dentro dos tecidos circundantes e podem também ter alastrado para os gânglios linfáticos, mas não para outras partes do corpo. Os cancros em estádio IV já invadiram outras partes do corpo; são também chamados cancros avançados ou metastáticos. Por vezes, estes estádios podem ainda ser subdivididos.

Os médicos usam ainda palavras tais como local, localizado, regional, localizado avançado, distante – ou, como já referido, avançado e metastático – para descrever o estádio de um cancro. Local e localizado significam que o cancro só está presente no órgão onde começou e não se espalhou para outras partes do corpo. Regional e localizado avançado, que o cancro permanece perto ou à volta do órgão inicialmente afectado. Distante, avançado e mestastático que o cancro já se encontra numa parte do corpo mais distante desse órgão. 

Após o tratamento, o cancro pode sofrer uma reclassificação, ou restadiamento, no sistema TNM – por exemplo, se o tumor encolheu. Mas a classificação TNM inicial não muda, porque isso geraria confusões quando se tratasse de avaliar a evolução do cancro ao longo do tempo ou de estimar taxas de sobrevivência. Em vez disso, a letra “r” é acrescentada às letras T, N ou M. Assim, um cancro classificado inicialmente como T2N1M0 poderá ser reclassificado como rT1N1M0. 

O estadiamento do cancro torna-se cada vez mais complexo, à medida que novos resultados são acrescentados aos sistemas de classificação dos diversos tipos de cancro. Mas ao mesmo tempo, isso faz com que o estadiamento do cancro seja cada vez mais rigoroso e útil.

Fontes

https://www.cancer.net/
https://www.ctc.min-saude.pt/
https://www.cancer.org/
https://www.facs.org/

Por Ana Gerschenfeld, Health & Science Writer da Fundação Champalimaud.
Revisto por: Professor António Parreira, Diretor Clínico do Centro Clínico Champalimaud.
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