17 Novembro 2023

Check Up #20 - Cancro Pancreático

Quais são os mitos e as verdades sobre esta doença?

Check Up #20 - Pancreatic Cancer

O cancro do pâncreas é uma doença avassaladora. Isto porque, quando se torna suficientemente sintomático para ser detectado e diagnosticado, em muitos casos já se encontra disseminado, com células tumorais a invadirem outros órgãos.

Na verdade, é uma das formas mais mortíferas de cancro, com uma taxa de sobrevivência estimada de cerca de 3% ao fim de cinco anos quando se torna metastático, contra 44% quando ainda está localizado, de acordo com dados recentes do National Cancer Institute dos EUA. 

No entanto, trata-se de um cancro relativamente raro. O risco estimado de contrair cancro do pâncreas ao longo da vida é relativamente baixo: um em 73 para os homens e um em 74 para as mulheres. 

Mas o grande problema com o cancro do pâncreas é que não existem testes fiáveis que permitam o seu diagnóstico precoce (nomeadamente biomarcadores específicos), nem estratégias de rastreio para o detetar nas suas fases iniciais – altura em que poderia ser curável. Nas fases mais avançadas, a sobrevivência pode ser prolongada através de diferentes tratamentos, mas os resultados ainda são modestos. Esta é a dura verdade sobre a situação actual relativamente ao cancro do pâncreas. 

É certo que existem sinais e sintomas de cancro do pâncreas, mas são muitas vezes pouco específicos e podem ser facilmente associados a outras doenças ou perturbações, tais como dores de barriga, indigestão, dor de costas ou perda de peso inesperada, perda do apetite, aparecimento da diabetes ou alterações dos hábitos intestinais.

É para resolver este grande problema que a Fundação Champalimaud construiu um centro único no mundo, equipou-o e contratou profissionais para lá trabalharem. Dedicado ao cancro do pâncreas, este centro destina-se a reunir os esforços de investigadores de topo e oncologistas médicos empenhados em acelerar a passagem (ou “translação) dos avanços recentes e futuros da investigação científica na compreensão deste cancro para a prática clínica. Com financiamento dos filantropos espanhóis Mauricio Botton Carasso e Charlotte Botton, o Botton-Champalimaud Pancreatic Cancer Centre encontra-se perto do edifício principal do Centro Champalimaud – estando previsto o início da sua atividade dentro de poucas semanas.

A dura verdade sobre o cancro do pâncreas gerou alguns mitos. Um deles é o de não ser tratável. Ora, como já foi referido, se for detectado precocemente, quando ainda está localizado, pode mesmo ser curado. E em fases mais avançadas, pode ser tratado com quimioterapia, radiação e cirurgia para prolongar a vida e a qualidade de vida do doente.

Outro mito é o de que o cancro do pâncreas é puramente hereditário. É-o só em parte. E para os indivíduos com uma história da doença em familiares próximos, recomenda-se vivamente uma vigilância apertada – mais uma vez, para o conseguir detectar precocemente. Mas a maior parte dos casos de cancro do pâncreas não são devidos a causas genéticas. Existem factores de risco como a idade avançada, tabagismo, diabetes e obesidade, maus hábitos alimentares e o consumo crónico de álcool (que pode levar a uma inflamação crónica do pâncreas, ou pancreatite).

Outro mito ainda: o de que só existe um tipo de cancro do pâncreas ou que todos os cancros do pâncreas são igualmente mortais. Existem de facto dois tipos de cancro do pâncreas: o adenocarcinoma do pâncreas (o mais frequente, responsável por cerca de 90% dos casos) e os chamados tumores malignos neuroendócrinos, que são cancros das células pancreáticas (células de Langerhans) que produzem insulina. E, de facto, os tumores neuroendócrinos tendem a ter um prognóstico muito melhor do que os adenocarcinomas pancreáticos.

Outra ideia errada é que o cancro do pâncreas afecta apenas os homens. Afecta igualmente homens e mulheres. E não só apenas as pessoas mais velhas, apesar de a idade ser um factor de risco para o cancro do pâncreas. A probabilidade de ter cancro do pâncreas aumenta efectivamente com a idade, sendo a idade média de diagnóstico do cancro do pâncreas de 72 anos. Todavia, mais de 30% de todos os doentes diagnosticados no Reino Unido entre 2005 e 2009, por exemplo, tinham menos de 64 anos aquando do diagnóstico.

Fontes:
https://www.cancer.gov/
https://www.cancer.org/
https://www.cancerresearchuk.org/
https://columbiasurgery.org/
https://pancreaticcanceraction.org
https://www.gutcare.com.sg/
 

Por Ana Gerschenfeld, Health & Science Writer da Fundação Champalimaud.

Revisto por: Dr. Carlos Carvalho, Diretor da Unidade de Digestivo do Centro Clínico Champalimaud.
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