Os cancros tornam-se resistentes à quimioterapia principalmente de duas formas. Ou têm uma resistência pré-existente a um tipo de medicamento ou desenvolvem resistência através de mutações.
Eis algumas das principais razões para o surgimento da resistência aos medicamentos contra o cancro.
Em primeiro lugar, como já foi referido, a resistência aos medicamentos pode já estar presente mesmo antes do início do tratamento – quando, por alguma razão, uma subpopulação de células tumorais não é sensível ao tratamento em causa. Isto é possível porque os tumores não são entidades homogéneas, o que significa que contêm múltiplas estirpes de células, com diferentes constituições moleculares e genéticas, algumas das quais conferem às células uma resistência a priori a determinados medicamentos e lhes permitem sobreviver ao tratamento.
A resistência aos medicamentos contra o cancro pode também desenvolver-se em resposta ao tratamento em si. Isto pode demorar semanas ou mesmo anos a acontecer e pode dever-se, em particular, a mutações da molécula-alvo do medicamento nas células cancerosas, que alteram a configuração desse alvo, diminuindo ou suprimindo desta forma a capacidade do medicamento se ligar fortemente a ele para ter o efeito terapêutico pretendido.
Uma outra causa de resistência aos medicamentos são as alterações ditas epigenéticas do ADN das células cancerosas, em resposta a um determinado medicamento. Não se trata de mutações genéticas, mas sim de alterações nos níveis de expressão dos genes, que podem aumentar a capacidade de as células cancerosas bombearem o fármaco para o exterior, diminuindo assim, mais uma vez, os efeitos terapêuticos. Isto acontece, nomeadamente, quando as células cancerosas respondem ao tratamento aumentando a produção de certas proteínas que, normalmente, bombeiam os agentes tóxicos para fora das células saudáveis. Um processo, portanto que as células cancerosas são capazes de se apropriar.
Muitos medicamentos contra o cancro actuam danificando os genes da célula cancerosa ao ponto de esta se levada ao “suicídio”, num processo denominado apoptose. Mas, em vez de bloquearem ou prejudicarem a acção do próprio medicamento, algumas células cancerosas conseguem "aprender" a reparar o seu próprio ADN, conseguindo assim vencer este mecanismo de morte celular.
Um último exemplo (esta lista não é exaustiva): a resistência aos medicamentos pode dever-se às condições que reinam na área em redor do tumor, ou "microambiente" tumoral. Estas condições, que podem mudar durante o tratamento, podem proteger o tumor contra os ataques do sistema imunitário do doente.
Para tentar ultrapassar a resistência aos medicamentos, pode ser administrada uma combinação de vários tratamentos. Os especialistas estão também a procurar formas de reverter as alterações epigenéticas, bloquear a produção de substâncias celulares que expulsam os medicamentos, alterar o ambiente do tumor e estimular o sistema imunitário do próprio doente.
Fontes
https://www.cancer.gov/
https://www.verywellhealth.com
https://chemocare.com/
https://cancerquest.org/
Por Ana Gerschenfeld, Health & Science Writer da Fundação Champalimaud.
Revisto por: Professor António Parreira, Diretor do Centro Clínico Champalimaud.