03 Agosto 2022

Check Up #4 - Diagnóstico precoce do cancro e rastreio do cancro são a mesma coisa?

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o diagnóstico precoce do cancro e o rastreio do cancro são duas estratégias diferentes para atingir um objectivo comum: a detecção precoce do cancro.

Check Up #4 - Diagnóstico precoce do cancro e rastreio do cancro são a mesma coisa?

O diagnóstico precoce visa detectar o cancro nos seus primeiros estadios, quando ainda é potencialmente curável. Aplica-se não apenas a pessoas que já apresentam sintomas de um dado cancro, mas também àquelas que, sem terem qualquer sintoma, apresentam factores de risco conhecidos que justificam esta abordagem.

Isso pressupõe, em particular, uma “atenção redobrada aos primeiros sinais de cancro por parte dos médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde, bem como do público em geral”, enfatiza a OMS no seu website.

O rastreio, pelo seu lado, “consiste em testar [populações] pessoas saudáveis de forma a identificar aquelas que têm cancro antes do aparecimento de quaisquer sintomas”, escreve a OMS.  

Os programas de diagnóstico precoce tais como os que existem no Centro Clínico Champalimaud (CCC) visam portanto reduzir a proporção de doentes diagnosticados num estadio avançado de cancro, o que é crucial em termos de prognóstico e de resultados.

Infelizmente, nem todos os cancros se prestam ao diagnóstico precoce: há cancros cujos sintomas só se tornam manifestos num estadio avançado. É o caso dos cancros do pâncreas e do ovário, por exemplo. De facto, o diagnóstico precoce do cancro é realmente fazível apenas para certos cancros: o da mama, o do colo do útero, o da boca, o da laringe, o do cólon e recto, e o da pele. 

Um parêntese: é por esta razão que o CCC fornece um serviço mais completo, uma espécie de “mistura” entre as duas estratégias de detecção precoce: o Programa de Avaliação do Risco e Diagnóstico Precoce. Este programa inclui consultas iniciais – para pessoas saudáveis – que dedicam particular atenção ao género do indivíduo, à sua idade, estilo de vida, historial clínico e risco genético para identificar quais os factores de risco mais significativos”. Em função desta avaliação preliminar, “é então desencadeado um conjunto de ações que inclui a realização de consultas com especialistas e/ou exames médicos, especificamente planeados para responder às necessidades de cada caso avaliado.” Ou seja, algo de mais parecido com o rastreio.

O rastreio, como já foi referido, é normalmente realizado junto de populações compostas essencialmente por pessoas saudáveis, e habitualmente no âmbito de programas/campanhas de saúde pública. Consiste em utilizar testes relativamente simples, capazes de detectar cancros ou lesões pré-cancerosas e que podem ser realizados em grande escala. A mamografia para o cancro da mama e o teste de Papanicolaou para o cancro do colo do útero são dos mais bem conhecidos entre os testes deste tipo.

Porém, como resumido pela OMS, os testes de rastreio têm inconvenientes tais como: os resultados falsamente positivos que conduzem a testes adicionais, procedimentos invasivos de diagnóstico e provocam ansiedade; os resultados falsamente negativos que conferem um falso sentimento de segurança; e o excesso de diagnósticos, que leva ao tratamento desnecessário de cancros pré-clínicos, que talvez nunca viriam a causar sintomas nem a tornar-se ameaças sérias à saúde. 

É por isso que esta agência internacional não recomenda o rastreio do cancro da mama por mamografia nas mulheres com menos de 50 anos e apenas defende o rastreio maciço para o cancro do colo do útero, o cancro da mama e o cancro colorrectal. A Liga Portuguesa Contra o Cancro também recomenda que as mulheres sejam rastreadas através de mamografia só a partir dos 50 anos de idade.

Por Ana Gerschenfeld, Health & Science Writer da Fundação Champalimaud.
Revisto por: Professor António Parreira, Diretor Clínico do Centro Clínico Champalimaud.
Loading
Por favor aguarde...