20 Novembro 2025

Concurso CaixaResearch de Investigação em Saúde Distingue Investigadores da Fundação Champalimaud e da Fundação GIMM

Quatro Investigadores Principais de duas instituições – a Fundação Champalimaud (FC) e a Fundação GIMM (GIMM) – receberam financiamento do Concurso CaixaResearch de Investigação em Saúde para o estudo do controlo cerebral do comportamento impulsivo, o desenvolvimento de novas imunoterapias oncológicas baseadas em nanotecnologia e células, e o estudo dos mecanismos que mantêm a estabilidade do genoma e influenciam o envelhecimento.

Estes quatro projetos selecionados irão receber mais de 1,75 milhões de euros de apoio, um financiamento que sublinha o compromisso da Fundação “la Caixa” em apoiar projetos de excelência que prometem beneficiar significativamente a saúde pública.
 
Abaixo encontra-se mais informação sobre os quatro projetos selecionados, bem como as curtas biografias dos premiados.
 

Joe Paton, FC

Dopamina, impulsividade e controlo hierárquico do comportamento em múltiplas escalas temporais

Esta investigação explora como o cérebro equilibra informação de curto e longo prazo – um processo essencial para a tomada de decisões adaptativas. Quando esse equilíbrio falha, podem surgir problemas como impulsividade, dependência ou má tomada de decisão, comuns em distúrbios como o défice de atenção e hiperatividade (TDAH) e o abuso de substâncias.
Usando ratinhos como modelo, a equipa pretende compreender como diferentes circuitos cerebrais processam informação em várias escalas temporais para orientar as ações. O estudo centra-se no papel da dopamina, uma substância química fundamental no cérebro envolvida na aprendizagem e na tomada de decisões. Combinando técnicas de registo avançadas e ferramentas como a optogenética – que utiliza luz para controlar a atividade de neurónios específicos – os investigadores irão medir e manipular a atividade cerebral para perceber como estes circuitos moldam o comportamento.
 
“Os nossos cérebros estão constantemente a ponderar as consequências imediatas versus as de longo prazo das nossas escolhas”, diz Joe Paton, Investigador Principal do Learning Lab na Fundação Champalimaud. “Queremos compreender como este equilíbrio é alcançado nos circuitos de decisão do cérebro – e o que acontece quando este processo falha, como na impulsividade ou na dependência. Ao desvendar estes mecanismos, esperamos não só aprofundar o conhecimento sobre o funcionamento do cérebro, como também inspirar novas abordagens terapêuticas para distúrbios do autocontrolo e da tomada de decisão.”

Bio

Após concluir o doutoramento na Universidade de Columbia, Joe Paton fundou o Learning Lab na Fundação Champalimaud, onde atualmente exerce as funções de Investigador Principal e Diretor de Neurociências. A sua investigação contribuiu de forma significativa para o avanço do conhecimento sobre os mecanismos neuronais subjacentes à aprendizagem de valor, ao processamento temporal, à função da dopamina e à organização hierárquica dos circuitos dos gânglios da base que controlam o comportamento. Reconhecido especialista na relação entre a sinalização dopaminérgica e o comportamento, Paton lançou recentemente um projeto financiado pela Michael J. Fox Foundation que investiga a base neuronal dos distúrbios de controlo de impulsos, um efeito secundário comum da terapêutica de substituição da dopamina, num modelo murino da doença de Parkinson.
 

Carlos Minutti, FC

Plataforma avançada para direcionar glicanos associados a tumores

A maioria dos cancros apresenta açúcares anormais – chamados glicanos – na superfície das suas células. Estes glicanos atuam como um disfarce molecular, permitindo que as células cancerígenas escapem ao sistema imunitário. Apesar do seu potencial clínico, estas estruturas resistem há muito a abordagens imunológicas eficazes.
 
O projeto GlycoTARGET pretende ultrapassar essa limitação através da criação de GlycoDISCs, nanodiscos lipídicos concebidos para apresentar glicanos ao sistema imunitário de forma visível e imunogénica. Estes nanodiscos são projetados para entregar os glicanos e estímulos imunitários de forma precisa às células dendríticas, desencadeando respostas coordenadas de anticorpos e células T contra os tumores.
 
“A nossa abordagem combina imunologia fundamental com nanotecnologia de ponta”, explica Carlos Minutti, Investigador Principal do Immunoregulation Lab na Fundação Champalimaud. “O apoio da Fundação ‘la Caixa’ permitirá transformar uma das caraterísticas mais furtivas do cancro – o seu revestimento de açúcares – no seu ponto fraco.”
 
O projeto é desenvolvido em colaboração com parceiros em Espanha, incluindo o CIC bioGUNE, Universidade do País Basco (UPV/EHU), Instituto de Investigação Sanitaria Biogipuzkoa e Universitat Rovira i Virgili.

Bio

Carlos Minutti iniciou o seu doutoramento na Universidade Complutense de Madrid e prosseguiu a sua investigação doutoral na Universidade de Edimburgo com a Prof. Judith Allen. Após formação pós-doutoral com o Dr. Dietmar Zaiss (Edimburgo) e o Prof. Caetano Reis e Sousa (Francis Crick Institute), estabeleceu em 2023 o Laboratório de Imunorregulação na Fundação Champalimaud, com o apoio de uma ERC Starting Grant, de uma EHA Kick-Off Grant e, mais recentemente, de uma bolsa “la Caixa” Health. O seu grupo estuda como o sistema imunitário antecipa em vez de apenas reagir, como a diversidade das células dendríticas é programada na medula óssea para moldar a prontidão imunitária nos diferentes tecidos. Este foco na antecipação imunitária constitui a base conceptual do projeto GlycoTARGET: ao compreender e explorar a lógica inata da programação das células dendríticas, a equipa pretende desenvolver imunoterapias mais inteligentes que preparem o sistema imunitário para reconhecer o cancro antes que este consiga esconder-se.
 

João Lacerda, GIMM

Desenvolvimento de terapias com células CAR T contra modificações pós-traducionais específicas do cancro

As células T geneticamente modificadas com recetores quiméricos de antigénio (CAR T cells) representam uma forma inovadora de imunoterapia. Apesar do sucesso em leucemias e linfomas, a sua eficácia em tumores sólidos é limitada.
 
A equipa propõe criar um novo tipo de CAR T direcionado a condroitina sulfato, um glicano encontrado quase exclusivamente em células cancerígenas. O objetivo é gerar uma terapia celular altamente específica e com menor toxicidade para tecidos saudáveis.
 
“Os nossos dados preliminares mostram respostas antitumorais promissoras”, afirma João Lacerda, Investigador Principal no GIMM. “Este financiamento será crucial para validar a terapia e avançar para uma aplicação clínica.”

Bio

João Lacerda é Diretor de um grupo de investigação translacional no GIMM e do Serviço de Hematologia e Transplante de Medula Óssea da ULS Santa Maria, além de Professor Catedrático na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
 

Claus Azzalin, GIMM

O papel da transcrição telomérica e do TERRA na reparação de telómeros danificados em células cancerígenas humanas

Os telómeros – extremidades dos cromossomas – podem ser confundidos com DNA quebrado, ativando reparações incorretas e instabilidade genómica. Este projeto estuda o papel do RNA TERRA, que ajuda a reorganizar a cromatina telomérica para permitir reparação adequada.
 
“Este financiamento dá-nos a oportunidade de abordar questões fundamentais da biologia do genoma”, diz Claus Azzalin, Líder de Grupo no GIMM. “Compreender como os telómeros são mantidos pode revelar novos caminhos para terapias contra o cancro e doenças relacionadas com o envelhecimento.”

Bio

Claus Azzalin doutorou-se em Genética e Biologia Molecular na Universidade de Pavia. Após investigação no Memorial Sloan-Kettering (Nova Iorque) e no Instituto Suíço de Investigação do Cancro Experimental (Lausana), juntou-se ao GIMM em 2016. Descobriu que os telómeros de mamíferos são transcritos em RNA não codificante (TERRA), essencial para a estabilidade genómica.
 

Sobre o Concurso CaixaResearch de Investigação em Saúde 2025

A Fundação “la Caixa” atribuiu um total de €26 milhões para 34 projetos de Portugal e Espanha. Este financiamento apoiará estudos científicos ao longo dos próximos três anos.
 
Nesta edição do concurso, foram apresentadas 714 propostas, refletindo a missão do programa em destacar e promover projetos que representem excelência científica, grande potencial e impacto social significativo, abrangendo desde a investigação básica até à clínica, translacional e pioneira.
 
O Concurso CaixaResearch conta com a colaboração estreita da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), a agência pública portuguesa que apoia a ciência, a tecnologia e a inovação em todas as áreas científicas. Nesta edição, a FCT financia 3 dos 9 projetos portugueses selecionados, contribuindo com €1.8 milhões.
 
O apoio financeiro concedido aos projetos escolhidos está dividido em duas categorias:
 

  1. Até €500.000, ao longo de três anos, para projetos apresentados por uma única instituição de investigação.
  2. Até €1.000.000, ao longo de três anos, para projetos apresentados por consórcios compostos por 2 a 5 entidades de investigação.

Desde a sua criação em 2018, a Fundação “la Caixa” já destinou €172.3 milhões a 234 projetos inovadores de investigação com impacto social relevante. Desses, 72 foram liderados por grupos de investigação portugueses. Atualmente, este é o principal concurso filantrópico para a investigação em biomedicina e saúde em Portugal e Espanha. Em cada edição, um painel internacional de peritos avalia cuidadosamente as propostas, realiza entrevistas com os candidatos pré-selecionados e escolhe os projetos com maior potencial científico e impacto social.

 

Texto por Hedi Young, Editor and Science Writer da Equipa de Comunicação, Eventos & Outreach da Fundação Champalimaud em colaboração com a equipa de comunicação do GIMM. 
 
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