04 Setembro 2025

Fundação Champalimaud Celebra a Distinção de Dois Investigadores com Prestigiadas ERC Starting Grants

O Conselho Europeu de Investigação (do inglês, ERC) anunciou os resultados das candidaturas às ERC Starting Grants de 2025, atribuindo um total de 3,49 milhões de euros a Joaquim Alves da Silva, Líder de Grupo na Fundação Champalimaud (FC), e a Marko Šestan, antigo investigador pós-doutorado na FC, atualmente Professor Auxiliar na Universidade de Rijeka. Durante os próximos cinco anos, os projetos agora distinguidos irão explorar questões fundamentais sobre o funcionamento do cérebro, o comportamento e a saúde.

Joaquim Alves da Silva and Marko Sestan, European Research Council Starting Grants

As ERC Starting Grants estão entre os prémios de investigação mais competitivos na Europa. Destinam-se a apoiar jovens investigadores promissores, com potencial para transformar os seus campos científicos, oferecendo os recursos necessários para a criação de equipas independentes e o desenvolvimento de programas de investigação ambiciosos.

Para 2025, o ERC reservou um orçamento de 761 milhões de euros para apoiar 478 Starting Grants em várias disciplinas. Só nas Ciências da Vida, 137 propostas foram selecionadas para financiamento de um total de 1099 candidaturas.

Para serem competitivos, os candidatos devem não apenas apresentar uma proposta científica inovadora e viável, mas também demonstrar sinais claros de independência e maturidade, por exemplo, através da publicação de trabalhos de relevância como primeiros autores ou sem a participação do seu orientador de doutoramento.


Joaquim Alves da Silva, Fundação Champalimaud

Título do projeto: Disentangling Self-Paced from Cued Action Initiation in the Motor Thalamus (DisSeCT)

Todos os dias tomamos inúmeras decisões sobre quando nos mover. Por vezes, as nossas ações são desencadeadas por estímulos externos – como levantar-nos quando alguém bate à porta – enquanto noutras ocasiões a mesma ação resulta de uma decisão interna, como levantar-nos simplesmente porque queremos uma chávena de café.

Na doença de Parkinson, uma condição que afeta a iniciação do movimento, esta distinção torna-se evidente: os movimentos auto-iniciados encontram-se mais significativamente comprometidos do que aqueles desencadeados por sinais externos. Isto sugere que os estímulos externos conseguem, de alguma forma, contornar os circuitos cerebrais afetados na doença de Parkinson, permitindo aos doentes um melhor desempenho motor. Apesar desta observação intrigante, continua pouco claro o que distingue, ao nível dos circuitos neurais, os movimentos auto-iniciados dos desencadeados externamente.

“Com o apoio do ERC, iremos investigar como funcionam os circuitos cerebrais quando as ações são geradas internamente em comparação com aquelas desencadeadas  por estímulos externos”, explica Alves da Silva. “Recorrendo a ferramentas avançadas para medir e registar a atividade em vias neuronais específicas, iremos comparar os circuitos de controlo motor mais fortemente afetados pela doença de Parkinson com outros menos afetados, e examinar o seu papel no movimento desencadeado por sinais externos versus auto-iniciado.”

“Em última análise, este projeto pretende revelar como o cérebro controla diferentes formas de iniciação do movimento, fornecendo simultaneamente um quadro conceptual para compreender porque é que os doentes de Parkinson muitas vezes se movem mais facilmente quando respondem a estímulos externos.”

Bio

Joaquim Alves da Silva é Líder do Grupo de Disfunção dos Circuitos Neuronais no Champalimaud Research Programme e Professor Associado na NOVA Medical School. Psiquiatra de formação, concluiu o doutoramento na FC sob orientação do neurocientista Rui Costa, investigando de que forma os neurónios de dopamina contribuem para a iniciação do movimento, combinando eletrofisiologia, imagiologia de cálcio e optogenética.

Na sua investigação pós-doutoral, explorou a comunicação entre o cérebro e o corpo após a ingestão de alimentos, focando-se em como os neurónios de dopamina respondem à deteção de calorias e como este processo é regulado pelo nervo vago. Atualmente, o seu laboratório aplica abordagens da neurociência de sistemas para estudar como a disfunção dos circuitos leva a doenças do movimento, como a doença de Parkinson e a distonia.


Marko Šestan, Universidade de Rijeka

Título do projeto: Every Smell You Take – Smell-Induced Conditioning of the Immune System During Infections (MemoSniff)

As nossas ações são profundamente moldadas por experiências passadas. Eventos dolorosos tornam-nos mais cautelosos, enquanto os sucessos reforçam a nossa confiança – processos de aprendizagem e adaptação conhecidos como condicionamento comportamental. Este princípio foi celebremente demonstrado por Ivan Pavlov, ao evidenciar que cães podiam ser treinados a associar o som de uma campainha à comida, acabando por salivar apenas com o som.

Ao longo do último século, a investigação revelou que o condicionamento influencia não só o comportamento, mas também respostas fisiológicas, incluindo as do sistema imunitário. No entanto, permanece uma questão crucial: poderá o condicionamento do sistema imunitário realmente melhorar as defesas do organismo quando este volta a encontrar o mesmo agente patogénico?

“Este financiamento do ERC irá apoiar o arranque de um projeto ambicioso e interdisciplinar para investigar como os circuitos neuro imunitários moldam as respostas imunitárias através do condicionamento comportamental”, explica Šestan. “Combinando ferramentas de ponta da neurociência e da imunologia, pretendemos descobrir novos mecanismos de regulação imunitária que até agora permaneceram largamente inexplorados.”

“Dadas as crescentes limitações das atuais terapias antivirais e o alarmante aumento da resistência aos antibióticos, existe uma necessidade urgente de abordagens transformadoras para o controlo das doenças infeciosas. Este prémio permitirá explorar se a ativação direcionada de vias neuro imunitárias pode suprimir a multiplicação de agentes patogénicos e aumentar a eficácia das vacinas – redefinindo potencialmente a forma como prevenimos e gerimos infeções.”

“A ERC grant não fornecerá apenas os recursos para estabelecer uma equipa de investigação dedicada e a infraestrutura necessária, mas também a liberdade intelectual para prosseguir um caminho científico de alto risco/alto impacto, capaz de abrir novas fronteiras no condicionamento imunitário e na prevenção de doenças.”


Bio

Marko Šestan iniciou o seu percurso académico em medicina veterinária na Universidade de Zagreb antes de concluir o doutoramento em imunologia na Universidade de Rijeka, onde se especializou em imunometabolismo. Como investigador pós-doutoral na FC, trabalhou no laboratório liderado por Henrique Veiga-Fernandes, estudando as complexas ligações entre os sistemas nervoso e imunitário. Regressou entretanto à Faculdade de Medicina em Rijeka, onde irá liderar o seu projeto, agora financiado pelo ERC, sobre regulação neuro imunitária e prevenção de doenças infecciosas.

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