02 Dezembro 2025
A humanidade do e no futuro
20 Anos, 20 Histórias
— Tecnologias & ferramentas ao longo do tempo com João Santinha
02 Dezembro 2025
20 Anos, 20 Histórias
— Tecnologias & ferramentas ao longo do tempo com João Santinha
João Santinha formou-se em Engenharia Biomédica pela Universidade Nova de Lisboa, durante uma das mais longas crises económicas que Portugal atravessou, e foi nessa altura que ouviu falar pela primeira vez na Fundação Champalimaud (FC). Num período em que poucas oportunidades haviam na sua área de estudos, surgiu uma posição na equipa de Scientific Software que lhe interessou. “Não fui selecionado”, diz a sorrir, mas fui “uns anos mais tarde convidado para outra posição”, acrescenta com orgulho.
Desde a sua graduação em 2011 até 2017, ano em que começou a trabalhar na FC, dedicou-se a projetos em várias áreas, e foi um deles que o trouxe de volta a Portugal. Trabalhou em algumas ferramentas de visualização de imagens médicas para Radiologistas que o seu amigo, e agora também colega, Nuno Loução, achou úteis para o trabalho que este estava a desenvolver no grupo de investigação (Imagiologia Clínica Computacional) de Nikos Papanikolaou na FC e foi assim que integrou esta equipa.
Desde então, a carreira de João fez-se nesta casa, onde além de ter continuado o seu trabalho de investigação em Inteligência Artificial (IA) para Imagem Médica, também completou o seu doutoramento em Engenharia Eletrotécnica e de Computação pelo Instituto Superior Técnico. Hoje é co-Investigador Principal do Laboratório de Cirurgia Digital na FC, um grupo inovador que combina tecnologia e medicina para ajudar a melhorar a prática cirúrgica.
Enquanto conversamos e relembramos os seus primeiros dias, comenta, com felicidade, que este é um lugar diferente, onde a proximidade se sente nos corredores, porque médicos, investigadores e doentes coabitam. Descreve a FC como uma verdadeira rede de talentos, onde se encontra sempre alguém com o conhecimento que uma nova ideia exige. “Se queres fazer uma animação para um artigo, tens designers. Se precisas de uma impressão 3D, descobres que existe uma plataforma de Hardware”.
Falar com médicos e perceber de que forma o seu trabalho pode ajudar a prática clínica, é do que mais gosta. Cada projeto bem sucedido abre portas a novos desafios, e é com orgulho que conta que o seu trabalho já está a ser integrado em várias unidades na FC, ajudando a tratar melhor e de forma mais eficaz os doentes.
A universalidade das ferramentas que a sua equipa desenvolve é entusiasmante para a investigação, a inovação e o futuro. Transformam informação acessória, através de algoritmos de IA, em novos diagnósticos holísticos que, de outra forma, não seria possível. É esta oportunidade para explorar aquilo que o olho-máquina revela em segundos, que o motiva a ultrapassar todos os desafios dos processos demorados – que requerem garantias para os doentes, que são críticos – e que o seu trabalho exige.
A IA revolucionou a imagem médica, abriu possibilidades que não se achavam possíveis. João quer que a IA trabalhe em conjunto com o humano, para que se consiga diminuir os erros e humanizar as consultas e se volte a ter uma medicina próxima dos doentes, tendo a tecnologia como aliada da prática clínica. Este boom da IA de livre acesso oferece também a possibilidade de explorar novos caminhos, num curto espaço de tempo, e isso é música para os ouvidos de qualquer investigador.
João fala-nos de uma das ferramentas que estão a desenvolver que usa IA para ajudar outros sistemas de IA que me deixou surpreendida, e que também ainda o deixa a ele. Permite pré-anotar imagens médicas em 3D, colocando a tecnologia ao serviço dos médicos, poupando não só recursos financeiros, como tempo. A criação desta solução foi apenas possível porque existe contacto direto com as equipas médicas e de investigação da FC, permitindo que se encontrem soluções reais e com impacto para os doentes que são acompanhados na Fundação.
Chamam a esta ferramenta de “Orquestrador de IA”, que, tal como o nome o diz tão bem, é uma ferramenta que usa vários algoritmos de IA para gerar um único relatório médico a partir de todos os resultados possíveis de análise de uma imagem médica, para que possam ser avaliados pelo profissional de saúde, o derradeiro maestro humano. Ainda com tantas ideias para concretizar, acrescenta que a ferramenta perfeita seria uma versão deste orquestrador que integrasse estes dados, de forma estruturada, diretamente na imagem médica controlada por um único comando – a voz –, ou seja, um único orquestrador de todas as suas criações.
De olhos postos no futuro, João destaca o papel crucial da tecnologia para ajudar a combater a sobrecarga dos serviços de saúde, a deteção precoce de doenças e a educação dos doentes, fazendo com que a sociedade tenha capacidade de continuar a crescer de forma saudável. Que estas ferramentas e desenvolvimentos tecnológicos, que já fazem parte do presente, sejam capazes de aproximar a humanidade e o futuro.
João Santinha, Investigador Principal e Co-líder de grupo, Laboratório de Cirurgia Digital, Fundação Champalimaud
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