17 Dezembro 2024

Mais calorias – mais consumo

O conteúdo calórico dirige preferências alimentares, mesmo que o sabor seja semelhante, em indivíduos com e sem obesidade.

O açúcar e outros hidratos de carbono podem condicionar preferências por sabores que lhes sejam associados, através de um processo denominado condicionamento sabor-nutriente, que foi estudado neste artigo

Segundo Albino Oliveira-Maia da Fundação Champalimaud, Portugal, e colegas, os alimentos com maior teor calórico foram os preferidos tanto entre indivíduos com como sem obesidade, apesar dos seus sabor e textura serem semelhantes. O estudo foi publicado a 17 de dezembro na revista de acesso aberto PLOS Biology. 

Quando comemos são enviados sinais ao cérebro com informação sobre o conteúdo energético de um alimento, o que pode influenciar as nossas preferências alimentares, independentemente do sabor. As pessoas com obesidade apresentam frequentemente alterações em áreas do cérebro onde a dopamina é libertada, o que pode motivar consumo alimentar relacionado com a recompensa, bem como à preferência por alimentos ricos em energia, gordura e açúcares. A perda de peso devido à cirurgia bariátrica tem sido associada a uma normalização da alimentação relacionada com recompensa, com uma mudança de preferências para opções mais saudáveis, mas os mecanismos subjacentes não são bem compreendidos. 

Neste estudo, depois de examinarem um grande grupo de voluntários saudáveis, os investigadores compararam preferências alimentares em três grupos: 11 indivíduos com obesidade, 23 doentes após cirurgia bariátrica e 27 indivíduos de controlo não obesos. Deram aos participantes iogurte magro doce, com ou sem maltodextrina (um hidrato de carbono que acrescenta calorias ao iogurte sem impacto no sabor ou na textura). Os participantes ingeriram o iogurte em casa, alternando entre o iogurte contendo maltodextrina e o iogurte simples. Nos três grupos, os participantes comeram mais iogurte contendo maltodextrina, apesar de classificarem ambos como igualmente agradáveis. De forma algo inesperada, os efeitos da maltodextrina no consumo de iogurte foram semelhantes nos indivíduos com obesidade em relação aos participantes sem obesidade.

Os investigadores utilizaram a marcação com iodo radioativo e a tomografia computorizada de emissão de fotão único para visualizar os recetores de dopamina no cérebro. De forma consistente com estudos anteriores, os indivíduos com obesidade apresentaram menor disponibilidade de recetores de dopamina do que os controlos sem obesidade. A disponibilidade de recetores de dopamina foi semelhante nos grupos cirúrgico e não obeso e esteve associada a níveis mais elevados de restrição alimentar. Estes resultados sugerem que as alterações cerebrais relacionadas com a obesidade podem ser revertidas após a cirurgia bariátrica, impactando potencialmente a quantidade de alimentos consumidos, mas não necessariamente os tipos de alimentos preferidos.

Os autores acrescentam: “Ficámos muito intrigados porque, apesar do comportamento estar orientado para a ingestão de iogurtes com maior teor energético, tal não pareceu ser o resultado de escolhas explícitas, uma vez que não foram encontradas alterações consistentes na agradabilidade dos sabores enriquecidos com hidratos de carbono. Por outro lado, é importante salientar que este comportamento se manteve em doentes com obesidade e após cirurgia para perda de peso, embora existissem diferenças importantes no sistema dopaminérgico cerebral.”

Artigo original aqui.

Texto preparado pela PLOS Biology, traduzido pela equipa de Comunicação, Eventos e Outreach da Fundação Champalimaud. 
Legenda da imagem: O açúcar e outros hidratos de carbono podem condicionar preferências por sabores que lhes sejam associados, através de um processo denominado condicionamento sabor-nutriente, que foi estudado neste artigo. Crédito: Diogo Matias (Communications, Events and Outreach Team), Fundação Champalimaud.
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