04 Dezembro 2025
Uma história sobre curiosidade, engenho e reinvenção
20 Anos, 20 Histórias
— Nos bastidores com Cátia Feliciano
04 Dezembro 2025
20 Anos, 20 Histórias
— Nos bastidores com Cátia Feliciano
A história de Cátia Feliciano e da Fundação Champalimaud (FC) começou quando ainda estava a terminar o seu doutoramento em Neurobiologia, na Duke University, em Durham, nos Estados Unidos da America (EUA). De sorriso largo, afirma que a sua grande paixão sempre foi a Neurociência e que quando soube dos planos da construção de um grande centro de investigação em Lisboa dedicado a esta área, regressar a Portugal tornou-se uma possibilidade. Poderia ter ficado nos Estados Unidos, com uma posição de Research Scientist, mas teria de se mudar para o Massachusetts Institute of Technology (MIT) juntamente com o seu então orientador. Não sabendo ainda de todas as grandes mudanças que a sua carreira em Portugal lhe traria, via nessa mudança o sinónimo de uma vida (e um destino) nos EUA, algo de que não estava certa.
Fala-me do neurocientista Rui Costa, agora Presidente e CEO do Allen Institute, que foi um dos primeiros investigadores do Programa Champalimaud de Neurociências, e de como, quando ainda estavam nos EUA o seu apoio e mentoria foram cruciais. Conta-me como já admirava o seu trabalho, que descreve como brilhante, e de como a apoiou durante o seu doutoramento. Curiosamente, estamos no antigo escritório de Rui Costa aqui na Fundação, que decidimos usar como esconderijo para podermos ter esta conversa. Rimo-nos quando nos apercebemos desta coincidência.
Cátia acaba por se mudar para Lisboa em 2011, como Investigadora de Pós-Doutoramento, no Laboratório de Neurobiologia da Ação, liderado por Rui Costa. Inicialmente os laboratórios estavam situados em Oeiras e o edifício icónico que hoje conhecemos estava a terminar de ser construído. As recordações dos primeiros dias de Cátia no novo laboratório são de uma equipa dinâmica, com projetos verdadeiramente entusiasmantes, onde se integrou com muita facilidade. Poucos meses depois da sua chegada, mudam-se para a localização perto do Tejo, a nova casa do centro que investiga o desconhecido.
Foi para o desconhecido que também caminhou o percurso de Cátia na Fundação Champalimaud. Uma das suas maiores contribuições foi a abertura da Unidade de Saúde e Segurança em 2018, que atualmente coordena. A grande mudança na sua carreira começou em 2016, quando, a convite de Rui Costa, se juntou à equipa que preparou a abertura do Programa de Fisiologia e Cancro. Começaram do zero, conta-me, com um Open Lab completamente vazio que precisava de mobiliário, equipamentos, instalações, e tantas outras coisas que Cátia tornou realidade. Além de uma das suas maiores contribuições, este foi também o seu maior desafio. Teve alguma resistência no início, confessa, porque pensava que este caminho a iria afastar da ciência. Hoje agradece a Rui Costa por ter reconhecido a sua vocação e a ter conduzido para este percurso, o que a faz muito feliz e a mantém em contacto diário com a Ciência.
Rapidamente se apaixonou pelo seu novo projeto, e hoje, todos os manuais sobre produtos químicos ou biológicos, procedimentos de emergência ou incompatibilidade de reagentes, regras de segurança básicas ou complexas, foram desenvolvidos por Cátia. Destaca o companheirismo e a criatividade de Artur Silva, Coordenador da Plataforma de Hardware e Software na FC, que a ajudou neste projeto e criou manuais personalizados, intuitivos e visuais que foram cruciais para estabelecer a cultura de segurança que desejava. Cátia faz uma pausa, e eu pergunto-lhe, já sabendo a resposta, se é bom ver esta cultura de segurança estabelecida. Ela responde-me sem hesitar e de olhos cheios: – É!
A este grande desafio, já se seguiram mais dois: em 2020 foi nomeada COVID Operations Manager, e ficou responsável pela gestão diária da manutenção das regras de segurança na Champalimaud Research; e em 2023 contribuiu de forma exímia para a abertura do Botton-Champalimaud Pancreatic Cancer Centre, na qual teve um papel ativo na gestão de espaços e infraestruturas, bem como no recrutamento de técnicos, quase como se de uma startup se tratasse.
Cátia reinventou-se, múltiplas vezes, sempre com engenho, e fê-lo porque nos diz que encontrou na Fundação uma casa, onde existe uma cultura de conexão entre as pessoas, o que a faz feliz. Destaca o apoio da Equipa da Direção e recorda o dia em que recebeu um telefonema, logo após o lançamento do primeiro manual de saúde e segurança, para se reunir com Leonor Beleza, Presidente da FC, que quis saber mais sobre o processo que a tinha levado ao produto final daquele projeto.
É com risos e leveza que termina a nossa conversa, onde Cátia recorda momentos dos retiros anuais da Champalimaud Research, que lhe trazem memórias hilariantes de atividades coletivas, como também de momentos-chave de superação pessoal. Para os próximos 20 anos, sonha ver a integração de todos estes programas de investigação que viu – e fez – crescer, com especial curiosidade pelo Centre for Restorative Neurotechnology, podendo sempre apoiar o desenvolvimento da Ciência, um desejo digno de uma verdadeira heroína de bastidores.
Cátia Feliciano, Gestora de Operações, Fundação Champalimaud.
Coleção 20 Anos, 20 Histórias completa aqui.