08 Março 2023

Zoom-In on Champalimaud - Terceira Edição - Número 2

Do Dia do Alzheimer (21 de setembro) ao Dia do Lixo Zero (30 de março), quase todos os dias são dias (inter)nacionais! E, como na Fundação Champalimaud não faltam pessoas com um vasto leque de experiências, interesses e conhecimento, para a 3ª Edição de 'Zoom-In' decidimos desafiar um membro da nossa comunidade com uma ligação especial à data que assinalamos.

Zoom-In on Champalimaud - Terceira Edição - Cristina João Sobre o Dia Internacional da Mulher

Em 1975 (Ano Internacional da Mulher), as Nações Unidas reconheceram o dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher, mas o que talvez não saibam é que esta é uma data relevante para os direitos das mulheres desde 1908, quando centenas de mulheres trabalhadoras marcharam em Nova Iorque, com o objetivo de criar um sindicato próprio e exigir o direito ao voto. Todos os anos, esta data relembra-nos que é necessário lutar por uma sociedade mais justa e igualitária, independentemente do género.

A Cristina João é Hemato-oncologista no Centro Clínico Champalimaud e Líder do Grupo de Investigação Mieloma Linfoma. É também Professora de Imunologia na Faculdade de Ciências Médicas - NOVA Medical School. Com trabalho publicado em inúmeras reconhecidas revistas, e com uma vasta experiência enquanto médica e investigadora, Cristina João foi homenageada pela Ciência Viva, tendo sido escolhida para integrar o livro “Mulheres na Ciência”  - lançado hoje para comemorar o Dia Internacional da Mulher - como exemplo de uma médica-cientista que se dedica a cuidar dos doentes e a estudar as melhores formas de os tratar.

Porque é que o Dia Internacional da Mulher é importante?

Num mundo onde temos cada vez mais noção das desigualdades, ainda é importante frisar que a desigualdade de género continua a ser uma realidade. Ainda recentemente as mulheres eram frequentemente preteridas em situações mais exigentes do ponto de vista social ou profissional, como formação pós-graduada ou cargos de chefia. Atualmente, e em países desenvolvidos, essas desigualdades esbatem-se mas num contexto global continua a fazer todo o sentido lembrarmos e valorizarmos o Dia Internacional da Mulher.

Penso que para além da homenagem que se faz a importantes mulheres portuguesas, neste dia importa estruturar planos que tenham como objetivo apagar desigualdades de género no presente e no futuro, especialmente em contextos mais desfavorecidos e em áreas sociais diversas como a cultura, a educação, a inovação e o empreendorismo. 

Concretamente dentro da comunidade científica, o maior desafio é ainda a falta de exemplos de liderança forte. Por razões históricas, a maioria das posições de liderança continuam a ser ocupadas por homens. O exemplo que damos a meninas e raparigas e jovens estudantes é ainda fraco no que diz respeito ao exemplo de mulheres como líderes fortes e frequentes. 

Recentemente, houve uma mudança de linguagem - com a utilização da palavra 'equidade' em vez de 'igualdade'. O que é que para si, enquanto mulher e profissional, “equidade para as mulheres” significa?

Podemos começar por diferenciar os dois conceitos. Igualdade é tratar de forma igual as diferentes pessoas, neste caso géneros. Equidade é tratar adequadamente de acordo com as circunstâncias de cada um, sem permitir favoritismos ou preferências não legítimas. A adequabilidade tem de equacionar as circunstâncias, os gostos e toda a potencialidade de cada uma. Implica um trabalho de liderança de equipas e abertura para crescimentos menos convencionais. Geralmente em ambientes profissionais, podemos começar por perceber diferenças em termos de preferências para nomeações ou valores salariais.   

A ciência tem sido uma área em que a meritocracia tem sido procurada, por isso a desigualdade pode não ser tão notória. No entanto, em termos globais, e especificamente na ciência, e por falta de adequadas oportunidades disponibilizadas às mulheres de forma sustentada, existem mais homens em posições de cientistas de topo, maior número de revisores e decisores que são homens e maior número de homens como líderes de grupo e responsáveis de instituições. Ainda há um caminho a fazer, mesmo na ciência.

Que aspectos das STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics) melhoram notoriamente pela presença de mais mulheres nestas áreas?

Estudantes e profissionais mulheres estão sub-representadas nas STEM. Nas escolas, a maioria das alunas prefere seguir as artes, em vez de disciplinas como a matemática ou engenharia. A este fenómeno podemos chamar de "fosso de género nas STEM".

Acredito que trazer mais mulheres para posições de destaque em áreas de STEM traz diversidade e maior facilidade na resolução dos problemas, com objetivos mais práticos e mais ligados à realidade do dia a dia.

A diversidade nas equipas traz realmente melhores resultados. Seja diversidade cognitiva, diversidade de género ou mesmo apenas uma mera diferença no tamanho do grupo, é reconhecido que na maior parte das vezes, perspetivas diferentes conduzem à solução ideal.

Foi uma das homenageadas no último livro da Ciência Viva “Mulheres na Ciência”. Como reagiu ao saber que havia sido reconhecida como uma das cientistas a destacar?

Recebi este convite para integrar este grupo de mulheres homenageadas este ano na Ciência e fiquei deveras honrada e também um pouco surpreendida. Às vezes achamos que as nossas atividades não são visíveis ou passam mesmo despercebidas. É bom saber que existe atenção. Penso que este reconhecimento se deve maioritariamente ao meu trabalho como médica-cientista, sempre com um pé na clínica e outro na investigação, mas também às minhas atividades no ensino pré e pós-graduado da Medicina. Para além disso, mantenho atividades de divulgação de ciência e colaboro frequentemente com escolas secundárias, com a Ordem dos Biólogos e com Associações de Doentes, entre outras instituições.

Tem alguma mensagem que gostasse de passar a todos os que estão interessados em seguir uma carreira nas STEM, mas principalmente às mulheres e raparigas?

Sejam persistentes e estejam preparadas para as situações e não tenham medo de falar, de participar, de dar a vossa opinião. Não tenham medo de sonhar e de voar, mesmo que haja quedas no caminho. Cultivem a bondade, a inteligência e a generosidade. 
 

Editado por John Lee, Content Developer da Equipa de Comunicação, Eventos & Outreach da Fundação Champalimaud.
Cristina João Sobre o Dia Internacional da Mulher

 

Loading
Por favor aguarde...